Durante a vida, atividades com andar, falar, enxergar e escutar são consideradas ações simples para a maioria das pessoas, mas nem todos têm o privilégio de fazer isso normalmente. O ato de falar e ouvir facilita bastante a comunicação entre as pessoas e se comunicar é essencial na vida em sociedade. Então imagine como é o cotidiano de uma pessoa surda que, por consequência, tem muita dificuldade para falar.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!De acordo com dados do IBGE, aproximadamente 9,8 milhões de brasileiros tem alguma deficiência auditiva. Deste total, 2,6 milhões são surdos e 7,2 milhões tem dificuldade auditiva parcial. A surdez afeta tanta gente no país que foi base para o tema da redação do mais recente Exame Nacional do Ensino Médio realizado em 2017. Roberta Oliveira de Malta Alencar é mais uma brasileira que enfrenta diariamente as barreiras de não escutar.
“Não nasci surda, mas em função de fortes febres que tive com dois anos de idade e também dos remédios que tomei para estabilizar a temperatura corporal me tornei deficiente auditiva. Nunca foi fácil para minha família, eles sempre tiveram muita pena de mim e ao mesmo tempo preocupação com o meu futuro, ninguém era preparado para lidar com uma filha surda” – explica Roberta.
A princípio os médicos achavam que o quadro da paciente era reversível e indicaram que Roberta fizesse sessões de fonoaudiologia. Então ela foi para São Paulo atrás de especialistas que recomendaram o uso de um aparelho auditivo. “Passei alguns anos com o aparelho, mas não obtive resultados. Meus pais ficavam tentando me ensinar a falar e eu não entendia nada”, conta.
Roberta também fala como era a relação com o restante da família: “Muitos me olhavam como uma pessoa doente e não faziam questão de tentar se comunicar comigo”. Com oito anos, ela foi matriculada na Suvag, uma escola gratuita para surdos do Recife, e começou a aprender a falar em libras. “Quando comecei a aprender libras passei a ser uma pessoa mais feliz, porque conseguia me comunicar melhor e, consequentemente, a viver melhor. Minha mãe e alguns primos mais próximos também fizeram o curso e se comunicam bem comigo”, explica.
Antes disto, Roberta estudou em outros colégios, nos quais não conseguia aprender muita coisa. “Os professores não eram preparados, então só depois que fui para a escola de surdos realmente consegui me desenvolver melhor na educação e conclui o Ensino Fundamental. No Ensino Médio, fui para o Visão, um colégio inclusivo que possibilitava contato com pessoas com e sem deficiência. Lá conclui o Ensino Médio”.
Roberta é formada em Desing de Moda e está cursando o oitavo período de Letras com Especialização em Libras. “Cheguei a trabalhar com moda, mas a chefe mudou minha função, passei a trabalhar em um setor da empresa que eu não tinha interesse e contrataram outra pessoa com a mesma qualificação em moda para fazer a função que eu exercia. Conseguir emprego é difícil para todos, porém o preconceito deixa tudo ainda mais complicado para pessoas com deficiência”, afirma.
Após desistir de trabalhar com moda, ela decidiu se dedicar à educação e, apesar de ainda não ter concluído o curso de Letras, já trabalha na área. “Trabalho como professora de libras em uma escola do Governo de Pernambuco e sou feliz por isso. Hoje sinto que sou mais respeitada no ambiente de trabalho e também que existem mais intérpretes nos locais, mas ainda estamos longe do ideal. O preconceito é menor, mas ainda está presente na sociedade.
Atualmente, Roberta tem 29 anos. Ela procura não fazer planos para o futuro, mas diz que quer ter um filho e ser ainda mais feliz. “Espero que a sociedade seja cada vez menos preconceituosa e que as pessoas com deficiência tenham mais oportunidades”, finaliza.
Leia mais: