“ A Jaqueline consegue ser bonita até desmaiando” subiu o tweet naquela noite do dia 24 de abril de 2019. Quem iria imaginar que, a partir de um simples tweet, poderia nascer uma história de romance entre Samara e Andressa. Naquele mesmo dia, a Andressa mandou mensagem na DM, começando, assim, a conversar sobre diversas coisas, inclusive que ela era PCD. Mas, Samara começou a pesquisar sobre a deficiência de Andressa: a osteogênese imperfeita, também conhecida como “ossos de vidros”, é uma condição rara que a principal característica é a fragilidade dos ossos que quebram com enorme facilidade. Depois de três dias, estavam namorando; uma em São Luiz a outra em Salvador, com 1.488,8 km de distância entre elas.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Andressa Linhares tem 24 anos, mora em São Luís no Maranhão, é pessoa com deficiência, LGBT e formada em relações públicas e tem canal no Instagram chamado @comunicapcd. Mas, existe um grande tabu no tema envolvendo pessoas com deficiência e orientação sexual. Este é um dos grandes preconceitos que os PCD sofrem, já que, para a sociedade, eles não têm poder de escolha, prazeres; sendo, inclusive, infantilizados.
Não foi diferente para Andressa. Contou para a família que era lésbica e que estava namorando uma menina virtualmente. “ Eu sempre fui estereótipo de menininha. Nunca fui a pessoa que queria bater de frente com isso, porque sabia que ia ser um choque. Visto que, a questão da deficiência já me fazia frágil demais na cabeça das pessoas aqui em casa. Quando achei que o relacionamento seria levado a sério, não queria esconder. Contei para minhas tias e meu irmão, mas foi um momento difícil e demorou para aceitarem” – relata Andressa.
Já para Samara Santos, 24 anos, procedente de Salvador na Bahia e pessoa sem deficiência, foi desafiador contar para família, já que por ser um namoro virtual, tiveram medo que Andressa não fosse uma pessoa do bem. Mas, em relação à orientação sexual, ela já tinha abertura para falar. “O tema ainda é pouco debatido, porque vem outras causas diante das pessoas com deficiência. Os PCDs precisam falar mais para serem vistos na sociedade, para que assuntos como sexo sejam debatidos” conta Samara.
De acordo com censo de 2010 do IBGE, existem 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, representando 24% da população brasileira. Eles só conseguiram seus primeiros direitos em 1988, com a promulgação da Constituição, e desde então vêm conquistando tantos outros. Mas, é preciso pensar que as pessoas com deficiência também devem ser vistas e representadas em outras causas sociais, como: mulheres, negros, LGBT. Como é ser pessoa com deficiência, mulher, negra e/ou LGBT em uma sociedade tão preconceituosa? Confira o vídeo:
Essa invisibilidade dos PCDs sobre sua orientação sexual existe por vários fatores, de acordo com Samara. “As famílias criam as pessoas com deficiência, muitas vezes, em uma redoma de vidro; acabam oprimindo-os, porque sabem o quanto a sociedade é cruel e capacitista” indignada, fala Samara. O capacitismo é um termo utilizado para discriminar, oprimir e diminuir as pessoas com deficiência. Esse termo surgiu em 2016, no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, quando um grupo de amigos com deficiência física usou a hashtag “#ÉCapacitismoQuando” com objetivo de ganhar força para ser discutido e poder, a partir disso, aumentar a conscientização social diante do tema.
No século 21, foram discutidos vários outros temas de grupos minoritários como: empoderamento feminino, racismo, LGBTQ+. Mas, porque existe resistência em relação às pessoas com deficiência? Porque é ainda um tema cercado de grandes preconceitos que precisam ser quebrados. Andressa lembra como foi, aos treze anos, descobrir que tinha diferenças em relação ao seu corpo e à sexualidade. Confira o video:
Andressa e Samara estão juntas há 1 anos e 9 meses, já foram discriminadas por serem homossexuais e por uma delas ser pessoa com deficiência. Não é fácil enfrentar os olhares. Mas, a partir do diálogo e demonstrando que isso é possível, outras pessoas podem iniciar seu autoconhecimento e ter coragem para enfrentar tantos desafios; além de abrir espaço, na sociedade, para maior entendimento sobre o assunto. Confira os depoimentos das duas no vídeo: