Por: Equipe Eficientes Foto: Wesley D’Almeida/ PCR
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!O Carnaval do Recife é reconhecido por sua diversidade cultural, atraindo multidões para os polos de festa espalhados pela cidade. No entanto, para as pessoas com deficiência, a experiência da folia ainda esbarra em desafios estruturais e comportamentais, apesar dos avanços nos últimos anos.
Em 2025, a Prefeitura do Recife manteve a reserva de espaços acessíveis nos principais polos, incluindo o Marco Zero, epicentro da festa. O Camarote da Acessibilidade foi posicionado em um local com visão privilegiada para o palco e com banheiros adaptados. No entanto, o acesso à estrutura teve falhas na execução.
Para a cobertura jornalística da folia de Momo, o Portal Eficientes credenciou a jornalista Pâmela Melo, uma mulher que usa cadeiras de rodas. Ser a primeira jornalista com deficiência a cobrir o Carnaval do Recife foi uma experiência marcante para Pâmela, repleta de desafios e conquistas. Para ela, o momento simbolizou a possibilidade real de pessoas com deficiência exercerem a profissão para a qual se qualificaram, mesmo diante de inúmeras barreiras.
No entanto, a jornalista enfrentou dificuldades. O primeiro obstáculo enfrentado pela profissional foi a chegada ao espaço reservado à imprensa. Embora a organização tenha disponibilizado carros adaptados que saiam da Prefeitura do Recife, no bairro do Recife, e uma entrada exclusiva para a imprensa, a ausência de informação, sinalização e comunicação entre os funcionários do órgão municipal dificultou o acesso e o deslocamento, obrigando Pâmela a enfrentar a multidão para entrar e sair do local.
Na entrada do credenciamento para imprensa e convidados, não havia rampa para o acesso ao espaço. Para receber a pulseira de acesso, foi preciso que Pâmela esperasse na parte de fora os funcionários responsáveis pela entrega do item. Para acessar a área reservada, ela precisou se deslocar mais a frente, já próximo ao palco principal, e entrar no acesso destinado a pessoas com deficiência que receberam o direito de participar dos shows como folião.
Dentro do espaço, a equipe da Eficientes iniciou os trabalhos para a cobertura jornalística e nesse momento Pâmela logo identificou outra dificuldade, desta vez relacionada à falta de reconhecimento profissional. Ela percebeu que alguns colegas da imprensa não a consideravam como uma profissional no exercício de sua função, ignorando sua presença e dificultando seu trabalho. Além disso, no primeiro dia de evento, mesmo credenciada, precisou passar por uma verificação adicional para comprovar que era jornalista – um obstáculo que, segundo ela, evidencia o preconceito ainda existente. “Muitos jornalistas quando me viram pela primeira vez atuando, cobrindo carnaval, não entenderam que eu era uma profissional ali. Elas passavam na minha frente, impedindo que conseguisse entrevistar, elas não me davam espaço. Logo no primeiro dia, na quinta-feira, eu estava com a credencial do jornalista e não pude adentrar ao local porque tiveram que verificar realmente se eu era jornalista. Além disso, uma assessora de imprensa achou que eu queria tirar foto com um artista, quando na verdade meu intuito era entrevistá-lo para o Portal”, contou Pâmela.

Apesar dos desafios, Pâmela destaca que a experiência foi enriquecedora e reforçou a importância de abrir caminhos para que mais pessoas com deficiência tenham acesso e respeito no mercado de trabalho jornalístico. “Os pontos positivos foi ver que a pessoa com deficiência pode sim exercer a sua profissão, mesmo diante de tantas barreiras, e que há projetos que abrem caminhos para que as pessoas com deficiência consigam chegar até lá. E foi o que o Eficientes fez. Abriu portas para que eu conseguisse chegar até lá, ser a primeira pessoa com deficiência a cobrir o Carnaval do Recife”, pontua. “Além disso, foi bastante divertido conseguir me aproximar de pessoas que normalmente eu não teria acesso no dia a dia, como artistas, pessoas socialmente conhecidas, politicamente conhecidas. O cantor Chico César, por exemplo, sabiamente pediu um banco pra se sentar, pra ficar na altura, já que sou uma usuária de cadeira de rodas. E eu consegui entrevistá-lo e sem precisar me esticar. Isso foi algo bastante legal, foi uma atitude muito consciente como cidadão, como pessoa, mas foi o único que fez isso”, completou.
A acessibilidade no palco principal do Carnaval do Recife ainda apresenta desafios
Se, por um lado, a iniciativa de reservar um local para pessoas com deficiência no palco principal do Marco Zero é um avanço, por outro, a execução revela que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir uma experiência realmente inclusiva. A dificuldade de locomoção até o espaço, a falta de um suporte adequado e a necessidade de disputar espaço com pessoas sem deficiência, principalmente na abertura do Carnaval, onde ainda não tinha sido montada a estrutura reservada, tornaram a folia no palco principal do Marco Zero um desafio. O que deveria ser um ambiente seguro e confortável para PCDs acabou gerando momentos DE desconforto.
Esse foi o primeiro Carnaval da xxx Mariane Zeni após a pandemia da Covid-19. Ela destaca pontos positivos na iniciativa, como a proximidade do palco e a presença de intérpretes de Libras. Mas, ela destacou a necessidade de melhorias no conforto do espaço, como a inclusão de abafadores de som e uma cobertura para proteger da chuva. “Achei que o espaço teria uma cabine coberta, talvez pudesse ser algo a ser pensado para a próxima vez. Nem que fosse uma cobertura plástica, de forma que não atrapalhasse a visibilidade de quem estivesse atrás. Poderia haver mais espaço para pessoas com deficiência motora também e um acesso mais próximo para quem chega de ônibus ou carro. Mas, de modo geral, é bem possível que eu volte no próximo ano e participe de algum sorteio para novo acesso ao camarote”, conclui.
Já para o xx Eduardo Nicácio, que também tentou acessar o espaço reservado, a experiência foi frustrante. Ele relata que, ao chegar ao local, foi informado de que não poderia entrar, mesmo tendo direito ao acesso. “Quando cheguei, fui informado de que não haveria possibilidade alguma de entrada para mim e para as outras pessoas que estavam ali. Mais tarde, soube que alguns foram liberados porque houve desistências, mas, inicialmente, não recebemos qualquer orientação ou acolhimento”, conta.
Eduardo saiu de sua residência, na zona sul do Recife, utilizando transporte público. Ao chegar ao Marco Zero, enfrentou dificuldades para localizar o espaço de acessibilidade devido à falta de informações e orientação. “Eu sou uma pessoa com deficiência visual e não havia qualquer suporte para auxiliar no deslocamento. Inclusive, muitas pessoas que trabalhavam no evento sequer sabiam da existência do camarote da acessibilidade”, explica.
Além disso, Eduardo criticou a falta de organização na liberação de vagas espontâneas no espaço reservado. “Cheguei cedo, antes das 18h, e fui informado de que não havia mais vagas. No entanto, um colega que chegou depois conseguiu entrar pela demanda espontânea. Como isso acontece? A gente não procura ser tratado como coitadinho, apenas queremos ter nossos direitos respeitados”, desabafa.
A experiência frustrante se estendeu até a tentativa de registrar uma reclamação formal. “Procurei a ouvidoria para relatar o ocorrido, mas a receptividade foi zero. No fim, tive que me afastar da área porque, para uma pessoa com mobilidade reduzida, era impossível transitar próximo ao palco devido à multidão”, lamenta.
As experiências de Mariane e Eduardo reforçam a necessidade de um planejamento mais detalhado, que envolvam pessoas com deficiência desde a concepção dos espaços acessíveis até sua execução. Afinal, acessibilidade não é apenas um direito, mas um fator essencial para que todos possam aproveitar a maior festa popular do Brasil em igualdade de condições.
